domingo, 7 de março de 2010

Geografia:

Queima de canaviais vai ser proibida
Os boias-frias ainda são responsáveis por metade da colheita. Eles vão fazer cursos de mecânica, de operador de máquina e até de hotelaria porque para o corte manual não voltam mais.

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O interior do estado de São Paulo está vivendo um momento de ajuste. Dentro de pouco tempo, a queima dos canaviais vai ser proibida. Na reportagem de João Carlos Borda e Alexandre Sá, você vê as consequências que isso terá para o meio ambiente e para os trabalhadores da região também.

Um canavial em chamas não produz apenas um espetáculo assustador. A queimada também lança na atmosfera toneladas de gás carbônico. Sem o fogo é impossível para o homem fazer a colheita. As plantações são sempre infestadas de cobras e a folha da cana corta como navalha.

"As dificuldades restringem a quantidade de toneladas colhidas e, ao mesmo tempo, expõe o trabalhador a uma série de riscos", afirmou o diretor de usina Nelson Marinelli.

Mas isso tem prazo para acabar: 2017 em São Paulo, o principal estado produtor. O fim da queima é uma exigência internacional para o Brasil conseguir exportar álcool combustível. Os usineiros fizeram um acordo com a Secretaria de Meio Ambiente paulista e vão antecipar o prazo em três anos, para 2014.

Hoje, os boias-frias ainda são responsáveis por metade da colheita e o trabalho é duro. Um cortador chega a dar 10 mil golpes de facão por dia. Em média, cada um colhe 10 toneladas de cana em uma jornada de trabalho de sete horas.

Uma máquina colhe até cem vezes mais, cerca de 800 toneladas. Mesmo assim, o setor ainda emprega 140 mil cortadores. A associação que representa as indústrias do setor já começou um programa de requalificação em seis regiões do estado.

"Nós temos estudos que apontam que o setor tem condições de absorver, na expansão atual, cerca de 80 mil desses trabalhadores", explicou o representante da UNICA, Sérgio Prado.

Eles vão fazer cursos de mecânica, de operador de máquina e até de hotelaria porque para o corte manual não voltam mais.

"O corte da cana manual, futuramente, não vai existir mais. Então, você tem que se qualificar para outro tipo de serviço, outra profissão”, disse o cortador de cana Ailton Alves Ferreira.

A maior usina do mundo foi a pioneira no país em programas de aperfeiçoamento profissional. Cortadores que ganhavam R$ 1 mil por mês estão tendo uma surpresa: "Ele pode até dobrar o seu salário. Isso dá a ele uma ascensão interessante, uma qualidade de vida diferente", declarou o diretor agroindustrial Agenor Pavan.

Quem faz o curso, sai dos canaviais para serviços mais qualificados e fica muito satisfeito: "Me deu uma projeção de vida melhor e abriu horizontes até para buscar um pouco mais", contou o auxiliar de manutenção Wilson dos Santos.

A tecnologia que chega aos canaviais ainda é um grande desafio para quem há pouco tempo colhia cana a golpes de podão. Hoje, os ex-cortadores de cana têm nas mãos uma máquina que vale perto de R$ 1 milhão, tem ar-condicionado e é toda controlada por computador. Em vez de pedais, alavancas e joysticks. Na tela, toda a operação de colheita comandada com um simples toque.

Para operar uma máquina como essa, é preciso pelo menos dois anos de curso. Rogério Vieira não viu nela uma ameaça, mas a chance para mudar de vida. "É o sonho da pessoa, porque a gente está começando. Sempre sonha em chegar nesse porte que é operar uma uma colhedeira desse tamanho. Mas para isso, estudei bem", disse.

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