sábado, 12 de dezembro de 2009

O diamante negro da Bahia


A Chapada Diamantina produz quatro dos dez melhores cafés do país. Os fazendeiros da região sonham com a possibilidade de concorrer com a Colômbia e outros exportadores de grãos especiais

Leonardo Coutinho

Chapada Diamantina, no sertão baiano, entrou em declínio no fim do século XIX, quando suas minas de diamantes começaram a se esgotar. Depois de mais de um século de estagnação, a região finalmente encontrou uma nova vocação econômica: o café. E café dos bons. O grão plantado nos arredores da cidade de Piatã há apenas três décadas surpreende pela qualidade. Em novembro, o café de um dos produtores da cidade foi considerado o mais saboroso do Brasil. Outros três ficaram entre os dez primeiros colocados em um concurso organizado pela Associação Brasileira de Cafés Especiais.
A valorização do café da Chapada Diamantina se deve ao sabor caramelo e de melaço de cana-de-açúcar que os provadores detectam no seu aroma e no seu paladar. O jargão que eles usam é o mesmo dos enólogos. "Os grãos de Piatã são frutados, elegantes e têm toque doce único", diz o norueguês Tim Wendelboe, um dos mais renomados especialistas na bebida. Essas características se devem às condições em que são plantadas as sementes do tipo arábica catuaí, que predominam também no sul de Minas Gerais e na Alta Mogiana, em São Paulo.
Não deixa de ser espantoso que, apesar de usufruir condições especialíssimas, a Bahia tenha demorado tanto a cultivar café. Os fazendeiros locais começaram a semeá-lo comercialmente em meados dos anos 70, empurrados por incentivos federais. Com dinheiro, mas sem apoio técnico adequado, eles adotaram técnicas rudimentares, que não permitiam ganhos de escala nem de qualidade. Há dez anos, o governo do estado passou a promover cursos e enviar agrônomos para corrigir os erros. Um deles: os produtores colhiam toda a safra de uma única vez, independentemente do ponto de maturação de cada pé. Agora, os frutos são retirados manualmente, um a um, e só quando atingem uma cor entre os tons de cereja e uva. Além disso, foram adotados métodos mais higiênicos de secagem e armazenamento, que evitam que fungos impregnem os grãos e afetem seu sabor. "As práticas antigas comprometiam a qualidade de um café que poderia ter sido reconhecido antes como um dos melhores do país", diz o secretário de Agricultura de Piatã, Max Dossi.

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