segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

FARC NA COLOMBIA e ALIANÇA DO NORTE NO AFEGANISTÃO

As Farc são proteção ou terrorismo?
Para derrubar o Talibã, que havia quase extinto a produção de ópio no Afeganistão, os EUA se apoiaram na Aliança do Norte. Apesar de ter sido apresentada ao mundo como uma legítima expressão da modernidade naquele país, a referida Aliança do Norte é composta por mercenários comandados por senhores da guerra que lucravam com a produção e o comércio de ópio.

Os americanos venceram a Guerra do Afeganistão. Os fervorosos Talibãs foram vencidos e depostos. O resultado foi catastrófico: a produção e comércio de ópio no Afeganistão tem crescido assustadoramente desde então. Em conseqüencia houve um aumento significativo do uso desta droga na Europa e nos EUA.

A guerrilha colombiana é sustentada pela tributação dos produtores e comerciantes de cocaína colombianos. Está, portanto, no mesmo ramo de atividade que a Aliança do Norte afegã. Curiosamente, as FARC não recebem o mesmo tratamento que a Aliança do Norte.

Enquanto os narcoguerrilheiros afegãos foram e ainda são tratados a pão-de-ló pelos militares americanos, o governo dos EUA insiste em considerar as FARC um grupo terrorista. Como recebe ajuda econômica e militar dos EUA, a Colombia de Uribe não pode e nãoquer tratar os milicianos das FARC como insurgentes. Portanto, não há solução política para a controvérsia colombiana.

Que diferença há entre o ópio da Aliança do Norte e a cocaína das FARC? Nenhuma! Ambas substâncias são alucinógenas, as duas viciam e causam danos aos usuários. A produção e comercialização de cocaina e de ópio sustentam verdadeiros exércitos privados no Terceiro Mundo e imensas redes de corrupção na Europa e nos EUA. Apesar destas semelhanças, os americanos tratam a Aliança do Norte como aliada política e as FARC como criminosas.

No Afeganistão os americanos construiram uma solução politicamente incorreta: os traficantes foram colocados no poder para atender o interesses da Casa Branca. Na Colombia o governo dos EUA provoca a preservação do impasse político: os guerrilheiros não podem fazer acordos com o governo porque são considerados criminosos.

Suponhamos que as FARC sejam militarmente destruídas com a ajuda dos EUA. A vitória não resolverá o problema mundial das drogas. Apenas e tão somente aumentará o potencial de mercado do ópio afegão produzido e comercializado com as bençãos do próprio Tio Sam. Afinal, me parece que os viciados em cocaína não ficarão sem se drogar em razão da ausência da droga. Havendo possibilidade eles farão um recall, ou seja, passarão a usar ópio e ficarão numa boa (numa pior, para falar a verdade).

Enquanto os gringos insistirem nesta política estupidamente ambigua e contraditória em relação aos seus aliados e inimigos não serão criadas as condições para solucionar o impasse na Colombia. Não podemos apoiar as FARC, mas também não devemos endossar a política americana para a Colombia considerando as ações dos EUA no Afeganistão.

Pessoalmente, cheguei a conclusão que a narcoguerrilha colombiana não tem nada de socialista. Ao contrário. Pelo pouco que já estudei acho que se estivessem vivos humanistas como Marx, Engels, Rosa de Luxemburgo e outros teóricos do socialismo certamente não admitiriam ser aliados dos líderes das FARC às custas do sofrimento dos operários que se viciam em cocaína ou vêm seus filhos viciados ou mortos por traficantes.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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