quarta-feira, 20 de janeiro de 2010


O "efeito Avatar" chega à TV
Depois do cinema, que achou ouro com a superprodução de James Cameron, a televisão – dos fabricantes de aparelhos à Rede Globo – também se rende ao 3D

Marcelo Marthe

Montagem com fotos de Ethan Miller/Getty Images e Amy Sancetta/AP

JOGADA TRIDIMENSIONAL
Montagem com aparelhos de TV e Blu-ray que a Samsung acaba de lançar em Las Vegas: da sala de cinema para a sala de estar


Nos últimos três anos, os estúdios de cinema voltaram a explorar, com sucesso, a tecnologia 3D. Filmes como A Lenda de Beowulf e Viagem ao Centro da Terra prepararam terreno para o sucesso extraordinário do recém-lançado Avatar, que, em apenas vinte dias de exibição, se tornou a segunda maior bilheteria da história do cinema (veja reportagem). A acolhida à produção de James Cameron tirou de cena as últimas dúvidas quanto ao desejo de um grande número de pessoas de tomar parte na experiência de imersão em um cenário inventado que o 3D proporciona. Espera-se que neste ano Hollywood produza mais de duas dezenas de filmes desse tipo. Mas, em 2010, o "efeito Avatar" já não vai ficar restrito às salas de projeção. Na semana passada, marcas como Sony, Samsung e LG exibiram novas linhas de televisores dotados de tecnologia que permite ver atrações com imagens tridimensionais. Vários fabricantes também apresentaram ao mercado equipamentos de reprodução de discos Blu-ray em 3D. A maioria dos lançamentos só deverá estar disponível para os consumidores no segundo semestre, quando se espera que seja definido um padrão mundial para a tecnologia. Mas alguns canais de TV se anteciparam. A ESPN, braço da Disney para transmissões esportivas, anunciou a inauguração de um canal 3D nos Estados Unidos em junho. O Discovery, a Sony e a IMAX – potência dessa tecnologia nas salas de cinema – vão se unir para iniciativa semelhante. Idem para a DirecTV americana. E, no Brasil, a Globo já faz gravações experimentais de programas em 3D.

Espera-se que a Copa do Mundo de futebol da África do Sul, que se inicia em junho, ajude a impulsionar as vendas dos televisores 3D. A Fifa firmou parcerias com a Sony, que fará captação de imagens da Copa nesse formato, e com a ESPN. A Copa do Mundo já demonstrou seu poder de disseminar as inovações tecnológicas da televisão. A edição anterior impulsionou a comercialização de aparelhos de plasma e LCD. Por isso mesmo, popularizar o 3D vai requerer algum esforço. Será preciso convencer consumidores que acabaram de adquirir equipamentos novos a fazer uma nova troca – e gastar um bom dinheiro. Nos Estados Unidos, televisores 3D terão preços salgados, acima de 2 000 dólares. Há ainda a necessidade de adaptação dos hábitos. Assim como ocorre no cinema, o espectador terá de usar óculos especiais – um incômodo e tanto para quem quer só acionar o controle remoto e relaxar no sofá. Alguns modelos custam caro – até 100 dólares. Deve-se cuidar para não sujá-los com a manteiga da pipoca.

Divulgação
COMO NOSSOS OLHOS
Para produzir as imagens em 3D, os programas de TV terão de ser captados por uma câmera com duas lentes colocadas a pequena distância – imitando a visão humana. Isso torna as gravações mais complicadas: nos testes realizados pela Globo, cada câmera teve de ser manejada por três profissionais, em vez de por apenas uma pessoa



Entre os fabricantes, a invenção de uma televisão 3D que dispense os óculos é uma espécie de busca do Santo Graal. Há dificuldades enormes para isso. O efeito 3D é uma reprodução técnica do modo natural como os olhos humanos captam as imagens no espaço. O olho direito e o esquerdo registram imagens da mesma cena por ângulos ligeiramente distintos – e o processamento delas no cérebro é que nos dá a noção de volume e profundidade. No cinema ou na TV, as imagens em 3D são captadas por câmeras com duas lentes colocadas a pequena distância uma da outra, como nos olhos humanos. A função dos óculos é fazer com que essas imagens sejam fundidas. As tentativas de produzir uma tela de TV que já exiba as imagens em 3D não vingaram até agora porque esse sistema requer que o espectador se sente numa posição fixa diante do aparelho – sob o risco de ver imagens embaralhadas. Em 2006, a holandesa Philips chegou a lançar um televisor 3D assim, para uso de grandes empresas – que compreensivelmente não encontrou demanda e teve sua produção encerrada.


No lado das emissoras, também há desafios a ser vencidos. O avanço da tecnologia permitiu o surgimento de câmeras 3D menores, mais precisas e mais fáceis de trabalhar do que as versões primitivas, que tinham dimensões de uma máquina de lavar. Ainda assim, gravar programas nesse formato continua a ser uma operação complicada. "São necessários três profissionais para cada câmera: um operador, outro incumbido de ajustar as lentes e um terceiro para monitorar o processo todo", diz José Dias, um dos responsáveis pelo setor de engenharia da Globo. A emissora gravou trinta minutos do Carnaval do ano passado em 3D, apenas a título de teste. Mais recentemente, também registrou assim – outra vez, só para consumo interno – várias cenas da novela Viver a Vida. Em fevereiro, deverá gravar em 3D dois dias de desfiles do Carnaval carioca – e, pela primeira vez, existe a possibilidade de que essas imagens sejam levadas de fato ao ar, apenas em transmissões por assinatura. Nos próximos anos, o 3D deve ser utilizado sobretudo para assistir a filmes em Blu-ray. A transmissão tridimensional em sinal aberto deve demorar bem mais para entrar na rotina do espectador.

Steve Marcus/Reuters

MAL NECESSÁRIO
Os óculos especiais para assistir às novas televisões 3D: assim como no cinema, eles são indispensáveis para criar a ilusão tridimensional. Sua função é fundir as imagens – de forma que cada olho veja a cena por um ângulo ligeiramente diferente, ao mesmo tempo

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